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COMO TUDO COMEÇOU

Quando eu era criança, passava os meus finais de semana no sitio em Avaré, na Estância Sol Maior.

Os meus dias eram repletos de aventuras e como eu aproveitava...

Nascer do sol, vaca, leite da vaca, cabelo preso, pés descalços, roupa suja, suor no rosto, cheiro de estábulo, crianças correndo, cheiro de lenha, arroz, feijão e carne de panela, mergulho no açude, lama movediça, mangue, cobra, debulhar o milho, cavalo, galope, vento no rosto, mangueira, abacateiro, subir na árvore, galinha, esconde-esconde na horta, casinha na árvore, boneca, cheiro de flor, joelho ralado, espinho no dedo, bolo quente, bolinho de chuva, deitar na grama, cheiro de mato, cheiro de chuva, garoa no rosto, bola no pasto, bola no pé, passarinho cantando, corda, banho de esguicho, banho de chuva, medo de raio, jogos com meus pais, histórias da minha avó, cafuné do meu avô, cansaço físico, sono e muitos lindos sonhos. Simples assim, livre, leve e solta, permeada de natureza e de família!

Cresci, me formei, casei e me tornei mãe. Com a maternidade, vieram novas relações, inquietações, reflexões e o desejo de viver intensamente a infância das minhas filhas.

Ao conversar com outras mães nas rodas do clube ou da escola, as conversas giravam em torno de: “Com quantos anos você tirou a fralda deles? E a chupeta? Eles dormem a noite inteira?” “Quais atividades seus filhos fazem? Eles já fazem inglês? Eles já sabem nadar?” “Seus filhos já estão alfabetizados? Em que escola eles estudam? Essa eu não conheço, prepara para o vestibular? É forte? É grande?” “Você viu que a filha da fulana está tomando Ritalina? Ela está tão mais calma, esse médico é bárbaro, acertou no diagnóstico!” “A qual psicóloga você leva seu filho?” “Em qual buffet você fará a festa dos seus filhos?” “Você já levou seus filhos para a Disney?”...

O que está acontecendo? O que estamos fazendo? O que queremos realmente para os nossos filhos? Queremos que eles se tornem mini-executivos de sucesso ou crianças que saibam respeitar, valorizar o outro, que saibam expressar suas emoções e fazer escolhas? Queremos que eles priorizem o SER ou o TER?

Diante de tantos dilemas e a certeza de que não queria isso para minhas filhas, não queria isso para “nossas” crianças, veio a minha inquietação: por onde começar para ajudar a mudar a cabeça desses pais? Foi então que decidi fazer a pós-graduação Infância, Educação e Desenvolvimento Social, para tentar encontrar caminhos na educação. Muitas aulas me tocaram, me sensibilizaram, mas foi no módulo da Rita Mendonça, “Criança e Natureza”, que algo me despertou, me encantou, me reconectou com a minha infância e entendi que esse era o caminho que queria seguir!

Enquanto a Rita Mendonça falava sobre as crianças que estão se afastando da natureza, do aumento do consumo da Ritalina na infância, do “tal” Transtorno do Deficit de Atenção, das crianças hiperativas, depressivas...uma luzinha vermelha, de emergência, acendeu em meu coração. Não fazia sentido tudo aquilo estar acontecendo e nós sabendo que o remédio estava tão próximo e acessível: NA NATUREZA! A natureza cura a alma, cura doenças, controla nossas emoções... Nesse momento, percebi que precisava estudar e mostrar para os pais o quanto esse contato das suas crianças com a natureza é importante.

Nasceu então o VerDe Perto! Considerando a minha própria experiência e através de muitos estudos, uma certeza me embasou: criança ao ar livre é mais saudável, mais viva, mais plena para criar seu próprio destino.

A criança na natureza se sente desafiada, se admira com as cores, a textura, desenvolve um olhar diferente, um olhar atento ao inusitado, aprende a respeitar os limites da natureza, a cuidar dela, se sente livre, se sente ela mesma. Aprende a controlar suas emoções, fica mais criativa, investigativa, assume e gerencia riscos, ao decidir subir ou não em uma árvore, escolher caminhos de uma trilha para chegar a um lugar desejado. São muitos aprendizados em um único lugar!

O dia a dia atribulado dos pais, a pressão vivida pelos compromissos diários, o estresse em que vivemos e essa vida “high tech” nos desconectam pouco a pouco do natural, do orgânico, da natureza (e às vezes até mesmo de nossos filhos). Não apenas as crianças, mas nós adultos também devemos nos permitir a voltar à nossa essência, nos conectarmos conosco mesmos.

O VerDe Perto começou a ser construído em 2015, foi amadurecendo e, em meados de 2016, durante uma viagem com amigas e filhos, em meio à natureza, encontrei a parceira para fazer de fato tudo acontecer! Com inquietações semelhantes, e em busca de algo que provocasse a mudança nos adultos que colaborasse para o crescimento integral das nossas crianças, decidimos juntas dar vida ao VerDe Perto. Em novembro de 2016, nossas viagens e vivências começaram a acontecer, de forma simples e inesquecível, como acreditamos que devem ser essas experiências.

Fernanda Cury

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